O Rio Grande do Sul tem iniciativas relevantes na transformação das áreas urbanas em cidades inteligentes. Acesso à informação, distribuição de sinal de internet, ações sustentáveis e processos sólidos de fomento à inovação estão entre as características que elevam a qualidade de vida dos cidadãos. O transporte público, por exemplo, é um dos aspectos avaliados dentro do conceito de cidade inteligente, que busca melhorar a mobilidade urbana com soluções para torná-la mais eficiente e sustentável.
E o conhecimento para produzir essas soluções, nas mais diversas áreas, pode estar dentro das universidades.
— Quando entendemos que as cidades podem ser vistas como um ecossistema de inovação urbano, temos as instituições de ensino exercendo um papel fundamental. As universidades estão se tornando cada vez mais ativas e empreendedoras, sendo cruciais no desenvolvimento socioeconômico regional — destaca a professora Luciana Maines, da Unisinos, que conduz um projeto que tem como objetivo analisar o papel das instituições de educação como atores ativos no desenvolvimento de cidades inteligentes e sustentáveis.
Durante a enchente que atingiu o Rio Grande do Sul em maio deste ano, muitas iniciativas surgiram para dar conta de diversas demandas.
No sistema Achados e Perdidos, por exemplo, professores e alunos da Unisinos aplicaram um modelo de inteligência artificial para localizar desaparecidos em listas de resgatados e colocá-los em contato com a família. Já o Consolida RS, criado em parceria com a empresa de desenvolvimento de soluções tecnológicas Paipe.co, é uma plataforma para todo tipo de ajuda, servindo como elo entre quem oferece e quem precisa de apoio. Unisinos e Paipe.co ainda criaram mais uma solução, em parceria com o Sebrae RS. A iniciativa Meu Negócio de Volta tem foco na retomada das micro e pequenas empresas atingidas pela catástrofe.
Essas e outras soluções chegam mais rapidamente à fase de execução graças ao processo contínuo de pesquisa e de testes da aplicabilidade dos conceitos estudados. Com o avanço científico e tecnológico, as universidades expandiram a visão da educação para incluir a chamada pesquisa translacional – que consiste em encontrar meios para aplicar as descobertas científicas em contextos práticos. O sistema chamado quádrupla hélice (já que representa a união entre academia, iniciativa privada, poder público e sociedade civil) é um dos principais fatores para fazer com que isso se concretize.
A secretária de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Simone Stülp, vê dois papéis centrais na atuação dos governos para a construção de cidades inteligentes. O primeiro é a indução de políticas públicas conectadas com as demandas de inovação e sustentabilidade, incluindo o financiamento de projetos de pesquisa e desenvolvimento. A segunda responsabilidade do Estado, segundo ela, é articular para que os atores importantes nesse processo estejam próximos entre si e discutindo temas convergentes.
— É importante ter uma legislação que permita que as cidades possam se organizar sob a ótica de uma cidade inteligente. Não só leis, mas planos diretores adequados para esta perspectiva — defende Simone.
Para dar conta dessas tarefas, a secretaria estadual incluiu o tema em seu planejamento estratégico e vem fomentando diversas iniciativas. Uma das ações mais recentes é a criação de
um catálogo de soluções inovadoras em relação aos problemas enfrentados com o clima. As ideias chegam de diferentes lugares do mundo, passam por uma curadoria e são disponibilizadas no site do Observatório da Inovação criado pela pasta.
Diversas são as pesquisas desenvolvidas em laboratórios, e fora deles, que já estão mais próximas do cidadão. Algumas delas são voltadas para mobilidade urbana, para a saúde, para redes de energia elétrica ou para o gerenciamento de infraestrutura da cidade. O que vemos aqui é a participação imprescindível da universidade, que vai muito além da pesquisa científica e tecnológica.
LUCIANA MAINES
Professora da Unisinos
Municípios gaúchos no caminho certo
Uma cidade inteligente se efetiva no momento em que a inovação se traduz em qualidade de vida. A professora Luciana cita Panambi como um exemplo de gestão pública que ganhou performance com o uso de tecnologia. Por meio de um sistema integrado, o município organizou e deu agilidade aos processos e vem se tornando referência.
Na pesquisa que está em andamento na Unisinos, ela analisa ações desenvolvidas por escolas e universidades que se conectam com cidades inteligentes, principalmente considerando a ideia de ecossistemas de inovação. O projeto acompanha processos a fim de descrever, discutir e coletivizar a experiência, resultando na proposição de ações práticas, que virão em uma publicação ao término do trabalho.
Em Porto Alegre, Luciana destaca iniciativas como o Pacto Alegre, que reúne poder público e iniciativa privada para fomentar a educação, o empreendedorismo e a inovação. O trabalho conjunto das instituições que fazem parte do Pacto tem como objetivo construir um ecossistema acolhedor, melhor para empreender e viver. Neste contexto, um dos assuntos mais latentes hoje é a questão da resiliência.
— Vivemos a maior enchente do Rio Grande do Sul e percebemos que ainda temos um longo e árduo caminho em termos de infraestrutura para garantir qualidade e segurança para a população — pondera.
Simone avalia que essa nova realidade das mudanças climáticas está posta. O momento é de repensar os espaços urbanos.
— É preciso que os ambientes possibilitem uma forma de vida mais sustentável, mais inteligente e, sim, os movimentos pela inovação das cidades são fundamentais para isso — conclui a secretária.
*Produção: Padrinho Conteúdo